quarta-feira, 24 de abril de 2024

Crítica ao vaut des villes


Olhavam-se sem querer

Como gatos assustados

Eriçados com a mão no peito

Expressão sobressaltada

Óculos redondos e a luz quente

As meninas de dezenove e vinte 

Respectivamente 

Francesas em Brasil -

E logo se desviam.

Andavam arrumadas

Sempre procurando nos subtextos

Motivos, pretextos

Para serem americanas dans la lumière

Para serem francesinhas expatriadas

Sem soutien e exportando golas altas

Se quiser Deus um dia serão mais velhas 

Felizes, doces como doces flores

Dandélias perfeitas numa praia;

Descalçando-se das sandálias, 

Na areia da praia se espraiam…

E partem para se amar, no mar

Num dia ensolarado num final de tarde

Le soleil n'ai plus tes cauchemars…

domingo, 14 de abril de 2024

Uma fortuna


 Havia uma ária cantada nos gestos

Dum tempo indigesto em que haviam fardas;

Eram brancas, pardas, ruivas umas duas

E as duas, - eu Roma - Aníbal Barca.


Se havia essa ária, eu ouvia cantata

Um minueto solene tocava em mim;

O réquiem de Mozart que ali se encerrava

Não podia mais lamúrias causar assim.


Uma fortuna eu tinha: fui pequeno

Fui mesquinho, cobicei a do outro;

Perdi-me a minha. Tranquei-me as portas,

Chorei de desgosto.


E a Roma arrasada - sem nenhum adorno

Ergueu-se sozinha.

sábado, 13 de abril de 2024

The dream catcher


Once, under a blizzard

Beneath a shady tree I waned

A withering star, I asked a wizard:

How do I get into someone's dreams?

He leaned forward, grinned slowly

And told me: wizards only.

And proceeded to flow downstream.

My mind boggled, I still insisted

How may I see greenish dreams of ether?

Dreams that are hardly mine, yet I ride?

He stopped his going, wished me three times

Rode down a stone, sat by me side.

Listen, said the wizard, is it dream you want

Or is it earthly miser?

I dream, says I, of my most beloved one.

And you want to be in their dreams tonight?

That's right, says I, but how could such be done?

You must first decide whether or not you want to suffer or cry.

And then, ashamed, I asked the wizard why was that

He told me that I had too much fear

Such then, a dream lover could never appear

For any beloved nightly draught;

I looked up, thanked the wizard…

And walked myself away from that thought, sprung by the blizzard



sexta-feira, 12 de abril de 2024

O Poeta-Guerreiro de Alandost (rascunho)


E era tal essa uma terra tão desconexa que mal recaiam sobre ela palavras concretas; um guerreiro d'espada à mão, mil anos de perdão, diriam os velhos tolos (os sábios de Alandost). Um guerreiro d'estrada - vagabundo - celas de prisão destrava, moribundo (os tolos em Alandost costumavam jogar a razão aos porcos, como pérolas faladas às ruas em que eram ignorados, mendigadores sujos).

Mas e naquelas malgulhas de reminiscências, memórias de uma tecelã decadente, onde havia ainda um guerreiro que declamava? Isto é, não remarcado por tatuagens, não dotado de barba basta e alquimicamente alterada, palavroso de coisas a dizer e não de mulheres a encantar; contaria ela pois uma história de sorte, ouvinte bom logo notaria, pois seria aquele o último Poeta-Guerreiro de Alandost.

E para quê tantos verbos, saudoso lamento que infringe a liberdade ribombosa de ouvidos alheios? Puberdade da alma, momento em que florescem-se a si vontades organizadas, nunca florescera em Alandost, até então. Logo que morrera ele, havia sido assim concretizado. Mas aí já havia a terra outro nome; já ao irmão havia o soberbe matado, com seu sangue a terra arado.

Pois quitam-se as doces rimas, evitam-se as estéticas remeladas de um outro pergaminho; vai-se a história, que começa-se pelo mesmo cocô de anjo. Primeiro, perguntou-se, “papai, e por que cagam-nos eles?” O pai riu e nada respondeu. Depois, estava com a espada. Como dali o havia matado, era outra carroça e meia de balanços do plantio ao campo dos estercos; sabe-se apenas que escreveu com o sangue:


Força de punho alma preserva;

Força de alma punho amolece.

Doce trigueira bom homem entorpece;

Sangue quente pio homem enlouquece.


Amarga matreira o homem agradece;

Ao cuspe fraterno bom homem esquece.

Mau homem não pensa duas vezes;


Bom homem repensa demais.

Mau homem caminha entre as reses;

Bom homem se satisfaz.


Ah, bem, pois havia uma mulher. Era como gato, e apreciava as coisas subjetivas em que se sujeita aparentar enfado. Fazia enleio, ficava-se por dúvida, apreciava palmadinhas no flanco. Mas nunca dando a graça da certeza, que era desgraça disfarçada. Perdeu-se o que escreveu sobre ela, mas por meio de símbolos quasi-decifrados, sabemo-lo que aspirava sempre os aromas de seu cabelo anil, docemente (advérbio amado por eles) amarrado em caudas irmãs, ambas recaindo pelo pescoço simétrico, brancura alva onde despontava vez ou outra uma veia clarinha, transignificada por seus olhos aquosos, uma espécie rara de beleza translúcida que mais tarde viria a ser arrancada e posta em conserva nos museus-reais de Alandost.


Das trevas mitenes tambor impera

E ao suave recanto fulgores descem

Das doces águas que a Deusa venera:

Enleios de gema-cristal enaltecem.


Qual montes fugidios vão crescendo;

Às lentes do homem vão morrendo.

Tudo cristal claro e doce embarca;

Por vezes ciano, vezes anil remarca.


E aos sombrosos sons da trovoada

Tudo anil sem-fim se entalha;

Cedem o bordô e a sã borralha.


E resta ao hemistíquio perene

Só três anis coisas à boca versar:

Os braços, a língua, a voz solene…


Os quadris rosados de tanto amar.

O Desafio do Armeiro (Traduzido do original de Ted Peterson)

  [Escolhi não traduzir nomes próprios salvo em raras exceções, a maioria destas quando aqueles são derivados de nomes latinos e convenciona...